Não
estranhe se em uma visita a Teresina, Piauí, você
começar o dia comendo sarapatel no mercado da Piçarra,
o mais famoso entre a turma descolada da cidade. É
comum sair da balada e ir ao mercado para curar a ressaca
provando um dos deliciosos pratos regionais, como panelada,
mão de vaca ou galinha ao molho pardo --conhecida por
lá como galinha caipira.
Se os mercados municipais do
mundo todo são cada vez mais visitados por mostrarem
aos turistas a identidade da culinária regional, o
mercado da Piçarra vai além. Os corredores não
expõem somente os ingredientes que serão levados
à mesa pelas famílias locais. Eles exalam cheiros
de dar água na boca até mesmo nos mais resistentes
à culinária nordestina e fazem com que a parada
em um dos boxes seja obrigatória.
Irresistível também
é puxar um papo com as vendedoras, conhecidas pelos
piauienses como viúvas brancas. Sim, praticamente todos
os donos de barracas de comida do mercado da Piçarra
são mulheres, viúvas e vestem alguma peça
de roupa de cor branca.
Sempre sorridentes, elas mexem
incansavelmente panelões que levam ossobuco, tomate,
cebola, pimentão, farinha de mandioca e pimenta malagueta
--caso da mão de vaca--, bucho, tripa, nervo de boi,
mocotó e cebola --caso da panelada-- e galinha cozida
no próprio sangue --o molho pardo.
Vale --e muito-- a pena provar
os pratos regionais, mas há opções para
quem acha que não consegue encarar uma comida forte
como essa. Seja qual for a sua escolha, ela não vai
custar mais do que R$ 6. Detalhe: esse preço inclui
bebida e um agradinho no final da refeição.
As viúvas brancas costumam levar à mesa um pote
bem grande com pedacinhos de rapadura.
Pratos fortes seguidos de muito
açúcar e somados a um calor que chega facilmente
aos 40ºC --principalmente durante o "b-r-o-bró",
como os piauienses chamam os meses de setembro, outubro, novembro
e dezembro, os mais quentes do ano-- rendem uma tremenda leseira
que transforma em ato de coragem o simples fato de levantar
da mesa e caminhar para os outros galpões.
Para amenizar o clima de sauna
que as telhas, que alcançavam os 50ºC, davam ao
mercado, foram realizadas obras de climatização.
Agora está mais agradável conhecer os outros
setores. Um comporta legumes, frutas e verduras. O outro,
peixes, carnes e frango.
Origem do nome
O mercado está no endereço
atual, na av. São Raimundo, s/ nº, há 12
anos. Antes, ficava em um galpão no mesmo bairro. Possivelmente,
o nome da região, que deu origem ao do mercado, surgiu
antes disso, quando as ruas eram calçadas com uma pedra
chamada "piçarra".
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