"Enquanto gente de todos os cantos do mundo passa meses
explorando esses países, o índice de brasileiros
na América Latina, principalmente nos países
andinos --ricos pela história, geografia e arqueologia--
é quase nulo. É uma pena."
O estudante
Luiz Saibenberg Neto, 23, também optou por explorar
a vizinhança em seu mochilão com os amigos.
"Sempre tive vontade de conhecer o mundo, mas, com o
dinheiro, a idade e a bagagem cultural que eu tinha, achei
que a América do Sul seria mais acessível",
explica.
A vontade de
conhecer mais a fundo a cultura latina também contou
na decisão de Luiz. "A realidade sociocultural
da América Latina é muito omitida para nós",
acredita. "Aqui só chegam a Shakira e o Ricky
Martin..."
A viagem de
Luiz pelos países hermanos começou no final
de 2006 e acabou se prolongando por quase dois anos. No início,
a idéia era percorrer o continente em uma Kombi com
mais quatro amigos da república onde morava em Florianópolis.
"Fomos dirigindo até a Argentina, mas, como a
Kombi deu muitos problemas, decidimos vendê-la".
A partir daí,
o grupo se separou, e Luiz resolveu continuar a exploração
de bicicleta. Foi a bordo de magrelas que o estudante e mais
um amigo fizeram a maior parte da jornada.
Para se manterem,
fizeram shows de música e de malabarismo, além
de terem trabalhado em um centro cultural na Bolívia
e participado de um comercial de cerveja como figurantes no
Peru. "O operador de câmera ficou tão empolgado
com nossa viagem que pediu demissão e seguiu conosco
durante uma parte do trajeto", conta Luiz. "Isso
acontecia sempre: o grupo crescia ou diminuía conforme
íamos seguindo."
Os irmãos
Carlos Roberto e Lorenzo Madalosso, 27, não ficaram
só na América espanhola. Dirigindo motocicletas,
percorreram a América inteira, do Paraguai até
o Alaska. "Queríamos sair da garagem de casa com
a moto e pilotar até o ponto mais distante possível",
explica Carlos Roberto.
Para ele,
a maior riqueza da experiência está nos contrastes.
"O que seria do deserto se não fossem as florestas
tropicais? O que seriam das vilas de pescadores se não
tivéssemos visitado metrópoles?", indaga.
"As diferenças tornam a viagem espetacular."
Roubadas
Nem só
de pores-do-sol à beira do lago Titicaca e de goles
de pisco no Chile é feita uma expedição
pela América Latina. Como todo viajante sabe, as roubadas
fazem parte do pacote.
Carlos Roberto
não se esqueceu da gororoba que teve que engolir enquanto
velejava por cinco dias no mar do Caribe, indo de Cartagena,
na Colômbia, até Portobelo, no Panamá.
"O arroz com lentilha que prepararam no primeiro dia
foi requentado varias vezes e, no último dia, era uma
pasta verde e fria", conta. "Além disso,
comer a bordo do veleiro deu ânsia de vômito."
Mas o pior perrengue
da viagem quem passou foi seu irmão. "Ele estava
de moto em uma estrada na Guatemala quando viu um cara vendendo
um esquilo", relata.
"Aí
parou para trocar uma idéia e tirar uma foto do bicho.
Quando tirou a máquina do bolso, o cara puxou um facão
e ameaçou atacá-lo". Sendo a venda de animais
selvagens uma atividade proibida, o vendedor se sentiu ameaçado.
Felizmente,
a história acabou bem. "O Lorenzo fugiu aos trancos
num ziguezague pelo meio da estrada", conta.
Luiz teve sua
bagagem roubada no Peru e na Colômbia. Mas, para ele,
os maiores problemas foram causados por policiais. "A
polícia de toda a América do Sul é muito
corrupta", indigna-se.
"Na Argentina,
fomos multados por excesso de velocidade dirigindo a 30 km/h!
É claro que eles queriam suborno."
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