- Da janela
do quarto, a vista muda a cada dia. Campos floridos, picos
nevados, mar e areia. Quem tem um motorhome não fica
parado: não importa a distância a ser percorrida,
a ordem é ganhar a estrada. "Prefiro viajar num
fim de semana com chuva do que ficar em casa em um dia de
sol", conta João Afonso, de 53 anos.
A história de amor de
Afonso com a estrada começou há 20 anos, graças
a seu trabalho como gerente de concessionária de veículos
de grande porte. "Alguns colegas e clientes tinham os
seus. Achei interessante e acabei comprando um trailer",
conta. Ele lembra que a mulher levou um "choque"
quando viu a aquisição. "Os filhos eram
pequenos e não tínhamos casa própria",
diz. Com o tempo, ela passou a gostar da idéia. "Viajávamos
sempre em família."
O primeiro trailer foi vendido
há tempos e, hoje, Afonso tem um motorhome cuidadosamente
decorado. "É minha casa também", explica.
Nos fins de semana, ele e a mulher procuram ir a lugares perto
de São Paulo, mas já se aventuraram também
por Bonito, Chapada dos Guimarães e até Argentina.
A família Goldschmidt
foi ainda mais longe em seus quase dez anos de estrada: percorreu
90 mil quilômetros em seu motorhome, batizado de Pégaso.
"Comprei com a intenção de levar a casa
na costas mesmo", conta Peter Paulo, que teve como companheiros
de viagem a mulher, Sandra, e os dois filhos.
ROTINA?
A idéia, segundo ele,
era fortalecer os laços familiares e poder acompanhar
de perto o crescimento dos filhos. "Foi um instrumento
de união." Para Peter, não há diferença
na rotina familiar, seja em terra ou sobre rodas. "Não
muda nada de uma casa normal. Só o quintal, que é
diferente a cada dia."
A experiência na estrada
rendeu um livro (Giro Pela América, Arx, 296 págs.,
R$ 39), além de um DVD. E, mesmo com os filhos crescidos
(Ingrid está com 16 anos e Erik, com 18), Peter afirma
que as aventuras em família vão continuar. "Os
namorados deles também vão ter de gostar de
viajar."
Entre os amigos que a família
Goldschmidt fez nessas andanças, pelo menos um também
acabou virando estradeiro: a cachorrinha Pepita. Encontrada
durante uma das viagens, logo se tornou companheira do grupo.
"Ela adora. Tem até um lugarzinho só dela."
AMIGOS
O companheirismo, aliás,
é característica comum entre os aficionados.
"Quem encontra um caminho diferente ou um lugar que valha
a pena, mapeia tudo e passa para os outros", diz Nivaldo
Massa, de 68 anos, presidente do grupo paulista Pé
na Estrada, que reúne 191 associados.
Além das paisagens, Massa
diz que entender o modo de vida das pessoas por onde se passa
é importante. "Gosto muito de conversar com os
moradores dos lugarejos", afirma. Em suas viagens, pôde
ver de perto o contraste social do Brasil. "Há
muita pobreza no interior do Nordeste. Os investimentos parecem
ficar concentrados nas cidades turísticas."
Apaixonado pelo campismo desde
os 12 anos, Massa sempre procurou o contato com a natureza.
"Comecei com uma barraca, depois um trailer, um motorhome
pequeno e daí em diante." Acostumados a ver o
pai acampar, os filhos, já casados, vão pelo
mesmo caminho. "Eles têm a própria barraca.
Assim, vamos todos para os mesmos lugares."
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