- Conhecer
o mundo sem sair de casa. Existe um grupo de viajantes para
o qual esse surrado clichê tem significado quase literal.
Ao cair na estrada, essas pessoas levam consigo sua própria
cama, a cozinha, o sofá da sala. Tudo em um veículo
adaptado. Móveis e eletrodomésticos formam cômodos
lá dentro.
Esse tipo de
carro específico para o lazer é um ilustre desconhecido
no Brasil. Tanto que seu nome, motorhome (casa motorizada,
em tradução livre), deixa até estradeiros
experientes com olhar de interrogação. Um tantinho
mais popular é o trailer, versão sem motor puxada
por um carro comum. Há 2 mil deles no País -
número insignificante se comparado aos dos Estados
Unidos e do Canadá. Juntos, os dois países têm
10 milhões de veículos de lazer.
Falta de hábito
nosso, sim, mas as falhas na infra-estrutura nacional ajudam
a explicar a quantidade ínfima de casas sobre rodas
por aqui. A precária condição das estradas
é muito citada por aficionados por esse estilo de viagem
- embora eles mesmos, os apaixonados, não se deixem
intimidar pelos vários buracos no asfalto.
O Código
de Trânsito Brasileiro, em vigor desde 1997, impôs
obstáculos adicionais ao exigir a habilitação
tipo D para condutores de motorhomes, a mesma usada por motoristas
de ônibus. Sem demanda, os campings não estão
prontos para receber esses veículos.
E nem é
preciso investir muito para permitir que uma dessas casas
portáteis se instale. Uma mangueira d?água,
um ponto de energia elétrica e uma fossa bastam. Claro,
segurança é uma preocupação, mas
estradeiros de longa data destacam a solidariedade entre eles
como desestímulo à violência. Os poucos
proprietários de carros de lazer no Brasil costumam
se reunir em associações e organizar encontros
como a "motorhomaria", realizada em Aparecida, há
dez dias. Um motivo a mais para se sentir em família
- e em segurança.
TIPOS
Feitos sob encomenda,
os motorhomes têm a aparência do veículo
escolhido pelo viajante para passar pela transformação
interna. Funciona assim: o interessado compra um chassi, a
parte estrutural de um carro grande qualquer, com ou sem a
carroceria - a "casca" também pode ser feita
ao gosto do freguês - e define com a fábrica
a distribuição dos cômodos.
Os mais modernos
costumam ser parecidos com ônibus. Outros têm
jeito de carro antigo. Conceito, aliás, usado pelo
presidente da Associação Brasileira de Campismo
(Abracamping), Luiz Antônio Pinto Matheus, também
dono de uma fábrica desses veículos: "Não
importa muito a idade de um motorhome porque a manutenção
é diferente, mais parecida com a de um carro de colecionador",
diz. No Brasil, 75% da frota tem mais de dez anos.
No caso dos
trailers, sem motor, há modelos de linha disponíveis.
E existe, ainda, uma terceira opção de veículo
recreativo, o camper. Trata-se de um trailer para ser encaixado
sobre uma picape - e não apenas puxado por ela. Tem
apoios para ser fixado ao piso quando está parado,
liberando a caminhonete para circular, livre e leve.
ONDE
IR
Mas até
onde pode ir um motorhome? A Região Sul é a
campeã na preferência dos estradeiros brasileiros,
tanto pela qualidade das rodovias como pela infra-estrutura.
Há bons campings e outros viajantes com suas casas
sobre rodas. Com sua população descendente de
europeus, aquela parte do País importou também
o hábito de viajar em veículos recreativos.
Outra vantagem
da região é a proximidade de países com
lugar garantido no coração desses turistas:
Argentina, Chile e, em menor proporção, Uruguai.
Fora da América do Sul, além dos já citados
Estados Unidos e Canadá, Alemanha, Áustria e
Austrália são boas opções para
quem gosta de viajar num carro-casa - ou quer passar por essa
experiência pela primeira vez (leia mais na página
10).
Vale lembrar
que, apesar do despojado clima de passeio, os passageiros
de um motorhome têm de respeitar as regras de trânsito.
Viajar sem cinto de segurança, por exemplo, é
proibido. Já ter fome nos momentos mais improváveis
faz parte da rotina. Afinal, as guloseimas estão logo
ali. Basta parar o carro no acostamento e buscar um belo lanche
na geladeira.
NO CINEMA
Priscilla, a
Rainha do Deserto (1994): um grupo de drag queens atravessa
a Austrália de motorhome para fazer um show em Alice
Springs, no outback. Entre paisagens deslumbrantes, elas apresentam
coreografias ao som de muita música disco - incluindo
sucessos de Abba e de Gloria Gaynor
Quase Famosos
(2000): o filme se passa em 1973. Aos 16 anos, William Miller
(Patrick Fugit) deve escrever um artigo para a revista Rolling
Stone sobre os bastidores da turnê de uma banda de rock.
Ao lado da groupie Penny Lane (Kate Hudson), Miller acompanha
o grupo, viajando pelos Estados Unidos no motorhome dos astros
As Confissões
de Schmidt (2002): depois que a mulher de Warren Schmidt (Jack
Nicholson) morre, ele decide viajar. Em um motorhome, atravessa
os EUA para ajudar no casamento da filha. Entrando numa Fria
Maior Ainda (2004): Jack (Robert De Niro) viaja num motorhome
para conhecer os pais de seu futuro genro, Gaylord Focker
(Ben Stiller)
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